A menina e as casas
Era uma vez uma menina esperta, que sabia ser muito sapeca e
também pensar quieta.
Não tinha nenhum super poder, ou habilidade mágica especial,
mas tinha o pensamento rápido como uma flecha.
Era uma criança normal, ia à escola, brincava, tinha amigos
e dançava muito bem.
Ela, assim como algumas amigas, mas ela só viria saber mais
tarde, colecionava casas. Tinha uma mão de casas para visitar. Uma mão de camas
para deitar. Uma mão de baús cheios de brinquedos para brincar... Viveu assim a
vida toda, colecionando casas.
Às vezes uma casa era mais legal do que a outra, uma mais
confortável, outra mais animada. Gostava de todas igual. Eram todas “Minha casa”.
Mas conforme foi aprendendo os dias e as horas na escola,
começou a perceber que as coisas tinham uma duração, um tempo. E que este tempo
não era só dela. Este tempo não podia ser esticado, encolhido, dobrado.
Foi aí que as coisas começaram a mudar. Quando estava em uma
das casas queria a outra. Quando estava noutra lembrava de outra, e de outra e
foi assim que se percebeu sem casa. Tinha uma coleção vazia que sozinha não
podia pegar.
Mais ou menos neste tempo que as coisas começaram a
esquentar, ouvia dentro de uma casa que a outra não prestava e de dentro da
outra que tudo ia mudar... e nas outras ouvia um pouco disso e daquilo.
Quando menos esperava, a menina parecia triste, mas
continuava fazendo tudo o que uma criança faz, ia à escola, brincava, tinha
amigos e até dançava. Por mais que todos percebessem as casas que colecionavam
a menina, mas ela era uma apenas e uma queria continuar sendo.
Ela sabia que o tempo era dividido, um tempo aqui, o outro
lá, um pouco acolá e passando por ali. Não bastava uma mão de brinquedos, uma
mão de televisores ligados e nem de presentes novos no natal. Uma casa sempre
queria mais do que a outra, e ela também, mas uma menina brigar com uma casa
não é nada justo, então brincava quieta e ainda sorria.
A menina crescia e as casas já estavam fracas de tanto
brigar... até que por fim a menina crescida fez sua própria casa onde as outras
só podiam entrar para visitar.